XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

mulheres poetas do Brasil



fator 50 

que a sorte
não me solte
na meia idade

nem esse sol
[assasino]
me assalte

no pôr da vida
peço paz
pele de pêsssego

e esta crença
tão criança
que acha: casando passa


valéria tarelho





Corpo, dejeto sideral
expelido sem espaço pra mais um
coração-desejo em colapso

chupam os órgãos externos decepados
ruminam os internos que preservo

pele, ensejo anêmico
minam princípios pelos poros
exaltam a criogenia falida

note o silêncio necessário
para preservar a espécie

jogada à fogueira, alimenta as bocas
dos falastrões sintéticos de plantão.


Lara amaral






Junto os pedaços
partes de mim
folhas secas
que foram jogadas
ao vento
farpas
que vêm à tona
paro
penso
só consigo implodir.








agonia

tem um poema calado
a desprender-se do lado
onde o grito se afigura

um poema de silêncio
sem palavras e sem fala
entranhado de estranheza

sua cor a cor do sangue
seu teor o horror à guerra
a maldição do mundo

*líria porto






partido-alto

sou quase
nada.
é por absoluto
que seja
parte
.
.
.
sou 1' samba de
memórias,
partido-alto
de esquecer-me
quase nua.

(batuque constante
de uma parte raiada)

 Ana Paula Perissé 






Drumundana

o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia
e agora Maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria

Alice Ruiz
Poesia do Brasil Vol. 15
Editora Grafite – XX Congresso Brasileiro de Poesia
Bento Gonçalves – outubro 2012




tempo-ido

tons de arrebol
tem a saudade

ela fica pintada
lá onde o abraço 
não alcança

cláudia Gonçalves





A letra não está na voz

desabitada
corpo caído
ave sem pouso
que dizer?

casas vazias
postigos
que no gelo ardem 
que dizer?

partido o som
sou imagem sem letras
silêncio perdido
sou palavra crua

das portas que se abrem
sou Ares…

de quem é o vento?

toque
tocas
sopras insólitas nuvens

furo cortinas
ardo futuro
habito o dia do ouvido

no teto de tua voz, anoiteço
ah, poesia, que me dizes?

Carmen Silvia Presotto - Vidráguas!






V.MIMOSA

Eu como capim, sim
Pode botar
Vinte de mim pra cada touro
To nem aí!

Encurralada
Eu não reclamo
Que sujo o rabo
Na tua lama

Me sento
Sem pressa
Questionamento
Não me interessa
Filosofia?
É só história pra boi dormir
Tô nem aí!

Pode me comer, seu touro
E me arrancar o couro
Que depois de mim, como capim
Virá outra
Vaca louca

Me babo toda
Engulo e cuspo
Sem asco ou ânsia
Pela resposta

E ainda me diz sagrada?
Pois te revelo nas retinas
O segredo é que rumino
E mais nada.

Alice Souto
http://artefaros.blogspot.com.br/search?q=vaca




verbo irregular

pra sempre é passado
é mais uma promessa apostando corrida
com todas as outras
na escadaria da igreja da penha

voltaria atrás
de joelhos
pra chegar primeiro
no futuro

porque se o tempo cura tudo
e o tal futuro a deus pertence
não vou duvidar
que milagres acontecem

mas pra sempre vou achar
não quero me especializar
em ter certezas, em fabricar
situações definitivas

toda vez que me vierem à cabeça
seus lábios de algodão
doce se dissolvendo
nos meus.



Bruna Beber

2 comentários :

  1. Grata, caríssimos, pela divulgação juntamente com esse elenco de poetas maravilhosas! Abraços!!

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  2. agradeço - honra-me estar em tão boa companhia - a foto que me representa é a foto da minha alma - gracias!!!

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