XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

terça-feira, 28 de maio de 2013

signos




o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqaui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde caí

pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
a palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora



Arnaldo Antunes
in Dois ou mais corpos no mesmo Espaço
Coleção Signos - 1997

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