XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ademir Antônio Bacca




Insensatez

eu navego 
em ti 
o desejo insano 
que persegue 
anos a fio. 

nas águas perigosas 
do teu cio 
eu me deixaria afogar
de vez. 








de máscaras & machucados

se mascaro a dor
com um sorriso
que não sei de onde
me vem
é porque cedo
aprendi a lição:
nos tombos
que a vida me deu,
poucas vezes
tive rede de proteção

© Ademir Antonio Bacca

do livro: “Gritos por dentro das Palavras”






iceberg

o que escondo
nem sempre é
a minha parte
mais perigosa

um bloco de ternura
hiberna
há muitos invernos
submerso em mim
à espera
de tantos reencontros



insônia

inventei tantos mundos
e abri tantas portas
em minha insônia
que tem noites
que não encontro caminho
para voltar para dentro de mim



ferido de morte

me deixe quieto
no meu canto

não toque no rádio
não mexa na ferida
nem provoque o sonho

deixe a noite
acontecer sem pressa

não fale meu nome
não atravesse a ponte

fique onde estás
e me deixe entregue
ao meu silêncio

hoje,
eu calo por nós dois



nós

essa coisa
que há em nós

busca que não cessa
palavra que não sacia

esperança que a gente tece
teimosamente
todos os dias

essa coisa
que há em nós

bálsamo para tantas dores
que a gente acostumou
e nem mais sente

força estranha
que há em nós
e nos leva pelas ruas
em busca dessas coisas todas
que na madrugada
desatam sobre nós



migração

sonhos

sonhos
batem asas
dentro de mim

quem sabe para o norte
quem sabe para morte



do conformismo

eu toco
a minha vida
como que conduz
um tropa de bois

de que me vale
a sensibilidade
de poeta
se a insensatez
dos governantes
sempre põe tudo
a perder?


Extraídos de BACCA, Ademir Antonio. PLANO DE VÔO. Bento Gonçalves: Grafite, 2004. 128 p.


Ademir antônio Bacca
Natural de Serafina Corrêa, RS, é poeta, contas, folclorista e jornalista. Publicou, até 2007, oito livros de poesia, além de organizar e participar de muitas antologias. Ativista cultural, organizador de festivais e eventos de poesia com repercussão nacional e internacional.

“Ao alçar seu Plano de Vôo, com poemas curtos e tocantes, é possível imaginar o poeta navegando sua asa delta emocional pelas querências gaúchas, captando o silêncio do silêncio, num horizonte sempre distanciado.”

JOSÉ MENDONÇA TELES

Nenhum comentário:

Postar um comentário