XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

cabeça


arte: fátima queiroz



Cabeça


Quando eu sofria dos nervos
não passava debaixo de fio elétrico,
tinha medo de chuva, de relâmpio,
nojo de certos bichos que eu não falo
pra não ter que lavar minha boca com cinza.

Qualquer casca de fruta eu apanhava.
Hoje que sarei tenho uma vida e tanto:
já seguro nos fios com a chave desligada
e lembrei de arrumar pra mim esta capa de plástico,
dia e noite eu não tiro, até durmo com ela.

Caso chova, tenho trabalho nenhum.
Casca, mesmo sendo de banana ou de manga,
eu não intervo, quem quiser que se cuide.
Abastam as placas de atenção! que eu escrevo
E ponho perto. Um bispo quando tem zelo
Apostólico, é uma coisa charmosa.

Não canso de explicar isso pro pastor
da minha diocese, mas ele não entende
e fica falando, “ minha filha, minha filha” ,
ele pensa que é woman´s lib, pensa
que a fé ta lá em cima e cá em baixo
é mau gosto só. É ruim, é ruim
ninguém entende. Gritava até parar,
quando eu sofria dos nervos.

Adélia Prado

Um comentário :