XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013




Atraso de vida

Por causa da poesia

o feijão queima
o leite entorna
esquece-se o troco
vai a roupa do avesso
chora o bebê com fome
perde-se o trem.
Mas viaja-se.

Sabe-se lá para onde

que anônima nuvem.


No meio do caminho


No meio do nosso caminho

tinha também uma pedra.
Não a pedra do poeta
verbal abstrata alegórica.
Tinha sim, uma pedra renal
concreta crônica sólida.
Tinha uma pedra plural:
extraída uma, outra surgia.

Nunca esqueceremos o lar mudado em hospital.

Dentro do corpo tinha um cálculo
obstáculo à união carnal.
Tinha uma pedra no caminho
do paraíso real.


Com a palavra o poema


Não ponha outra música no verso.

Seria equívoco, seria excesso.
O poema pede silêncio.
Quer proclamar o próprio som.
É canção de outro universo.
Cordas? Bastam as vocais.
Ouça, sua música de outro tom
avança em cortejo de vogais
jorra da fonte dos fonemas.
Não destrone a palavra.
De outra lavra a música do poema. 

Astrid Cabral

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