XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE POESIA

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Rio da Memória




Aquele rio
Está na memória
Como um cão vivo
Dentro de uma sala.

João Cabral de Melo Neto

Diz a lenda que certa vez uma pomba,
atingida por um tiro, caiu
às margens de um rio e aí, depois
de perder várias penas, saltou
das mãos do caçador, ganhou as águas
do rio e como um cão sem plumas
escapuliu para sempre.

De Rio da Pomba, Rio Pomba se chamou,
e a contração perdeu-se no poema.
O poeta se aventura nesta saga
de arte-vida, de outros risos-mares
e de mares-riachos, segredo
que conhece muito bem.

Com verbo fino, raro, diz, re-diz,
mira, desvenda ou veda na espuma
de um tempo nunca dantes velejado.

Sua música tece o apuro de sons
limpos, cortes sibilinos para
olhos ágeis, a mão armando
um leque de metáforas: meta.
No entanto é simples seu fluir.

Sob o manto de rios-mares, entrelinhas
faíscam e o minerador-matreiro
ora afasta um galho na passagem
ora imprime força às escuna,
de onde rasantes voos restauram
da história a face e o verso
imerso em lâmina sagaz.

Riverrun: um filme ou barco
que se toma em qualquer ponto
e desse porto é círculo a leitura, quieta.

At the end, Rimbaud re(i)achado
descerra a cortina, enxuga a fonte,
e, ao interrogar o horizonte,
- fotos, arte, voz, meandros
Resultam na paisagem inflada cada
Take planejado: foto/cine/drama
Da cidade-mundo que o poeta ama.

Joaquim Branco
Texto-apresentação de Pomba Poema
(re)escrito para a orelha do livro
minas em mim e o mar esse trem azul
de Ronaldo Werneck

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